De que côr são as tuas lentes?
- Nelson Henda Vieira Lopes
- 25 de mar. de 2020
- 2 min de leitura

Cada olhar é único, cada olho é singular, não olhamos nem passivamente, nem sequer olhamos pacificamente. A cada olhar reconstruímos o mundo, reafirmamos histórias, recriamos convicções, confirmamos ilusões. Somos afectos e relações no olhar. Há 20 anos que trabalho na comunidade, há 20 anos que sou psicólogo. Optei por não juntar tudo numa frase, optei por repetir estas dezenas de anos que tenho estado na comunidade e que simultaneamente tenho sido psicólogo. Quem é de sistémica (e espero que outros também) reconhecerá decerto o nome do saudoso Francisco Pina Prata, “O Professor”. Tenho a grande sorte de poder adicionar o nome deste gigante ao leque de excelentes professores, de gigantes que não nos davam o fruto, mas plantavam connosco a semente. Ainda hoje passados anos da sua passagem frequentemente reflicto sobre palavras e ideias que deixou a marinar na minha mente. Lembro uma aula sua, na Pós Graduação em Terapia Familiar e Comunitária da APTeFC em que o Professor, (já muito velhinho) falava de Minuchin e falava do seu trabalho de intervenção estratégica...??? Silêncio sepulcral... Todos os alunos da Pós-Graduação se entre olharam e se questionavam sobre a mente do Mestre... Minuchin foi da Escola Estrutural, o grande e mítico Professor mostrava sinais do peso dos anos e começava a confundir as Escolas!... ... mas o seu cognome PROFESSOR não veio por acaso, e adivinhando o nosso pensamento reflectiu connosco... "Minuchin não se auto-intitulou Estrutural, foram os que vieram depois dele que classificaram o seu trabalho como estrutural, ele simplesmente abria caminhos e laborava numa demanda para melhor compreender as famílias e suas condicionantes." Por isso sei que trabalho na comunidade há 20 anos. Sei que há 20 anos que procuro abrir caminhos, que procuro casar pessoas e estórias... Chamam-me Psicólogo.
(adaptado de um texto que escrevi ha 6 anos atrás) Henda Vieira Lopes, 25 de Março de 2020
